terça-feira, 5 de maio de 2009

Paz no cinema

Cinema: um condutor para a paz?
Especialistas em diversas áreas discutem a
capacidade do cinema em provocar mudanças sociais



Henrique Naves, Priscila Souza e Rafaela Tolentino


Incrível. Em uma busca por filmes interessantes sobre o tema “paz”, acabamos por encontrar um dado, no mínimo, curioso. O IMDb (The Internet Movie Database), a “Bíblia” do cinema mundial, aponta 349 filmes que contém “peace” no título (entre nomes originais, traduções, curtas e longas-metragem, etc.). Qual não é nossa surpresa quando digitamos no mesmo IMDb a palavra “war”: existem 2021 títulos cinematográficos. A diferença tão discrepante tem motivo.

No auge do século XXI, a busca incessante pela paz é uma luta que aflige os mais diferentes povos e nações, em qualquer parte do mundo. O cinema, assim como as manchetes de jornais, no entanto, insistem em se atrelar em conflitos, guerras, assassinatos e todos os tipos de situações que afrontam a paz.

O cinema, também conhecido como a “Sétima Arte”, dá poder aos diretores para retratarem a situação em que o mundo se encontra. Tal situação pode ser apresentada de forma realista ou ficcional. São eles os responsáveis por abordar a realidade pelos mais diversos ângulos.

Sabe-se que, para que um filme tenha boa história, é preciso uma situação de “desordem”. No decorrer de um longa tradicional, o que estiver “fora do lugar” acabará “no lugar certo”, ou seja, em paz. Por estes motivos, abordar a “guerra” acaba sendo mais atraente, do ponto de vista do cineasta, uma vez que é a “desordem” que gera curiosidade e, então, bilheteria. É explicável, portanto, a pequena quantidade de filmes com o tema “paz”.

Para alcançar um estágio pacífico, presume-se que houve um momento de conflito antes: “A paz é o ‘objeto’ a ser buscado. A guerra aparece como um dos caminhos para atingi-la”, observa o professor de Jornalismo Cultural do Centro Universitário de Belo Horizonte, Leonardo Cunha.

Há quem defenda, contudo, a idéia de que os filmes contribuem para a promoção da paz. De acordo com a jornalista e mestranda em cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG, Luiza Leite, “a indústria cinematográfica tem a função de emocionar as pessoas, mas, também, a de propor pensamentos a respeito do modo de vida da população. O filme “Cidadão Kane” é só um dos grandes exemplos do seu tempo que questionou o way of life dos norte-americanos de forma impactante. No Brasil, o filme “Tropa de Elite” foi responsável por mudar ou ampliar a percepção dos nativos sobre diversos âmbitos da sociedade. A corrupção dentro da polícia e a má gestão das corporações policiais são bons exemplos de como um filme pode restabelecer conceitos”.

O estudante de relações internacionais do Uni-BH, Rafael Pereira, concorda: “o cinema é um ponto de integração social voltado para o entretenimento e que proporciona reações semelhantes e debates saudáveis sobre diversos temas” declara. Rafael completa, ainda, que outra forma de se entender o cinema como “elemento promotor de paz” é a forma de abordagem de alguns filmes: “o interessante é que as próprias películas discutem questões sociais universais em evidência, como racismo (em “Duelo de Titãs”, por exemplo), conflitos étnicos (“Hotel Ruanda”), tráfico de drogas (“Traffic”, “Cidade de Deus”), guerras e atrocidades (“A Lista de Schindler”), além da própria natureza humana e seus diversos antagonismos (“Crash-No Limite”). Neste sentido, o choque entre as reações geradas pelos conteúdos e interpretações dos filmes (em especial, dos mais "pesados"), permite uma reflexão de valores morais em quem os assiste, sendo esse fato essencial para mudanças de mentalidade e atitude” analisa.

Em entrevista à revista “Bravo!”, o cineasta israelense especializado em documentários políticos, Avi Mograbi, confessou sua desilusão em relação ao poder do cinema em ser um condutor de mudança social, de promoção da paz: “Acho que a mudança social acontece em outros lugares e, algumas vezes, o cinema está lá para colher os frutos. Mas não acho que é o cinema que cria a mudança social ou a atmosfera para a mudança social” declarou. O diretor é um dos mais respeitados cineastas de Israel, principalmente por abordar de maneira crítica, em suas obras, como o povo palestino é tratado pelo governo do país.

A psicóloga Beatriz Souza Cruz alerta que os filmes deveriam mostrar mais o lado positivo da vida. De acordo com a psicóloga, as notícias negativas surgem e chocam a sociedade. Enquanto isso, o comportamento distorcido relatado nestas reportagens, acaba fazendo com que seja construída uma idéia de que o errado é, agora, comum: “Se o cinema passasse a divulgar sobre a importância dos valores humanos, aos poucos a humanidade iria se conscientizar que este poderia ser o caminho para se propagar a paz”.

A repórter de cinema do Union Web Revista, Luiza Villarroel, exemplifica a declaração de Beatriz, mostrando alguns filmes que podem colaborar para o estabelecimento da paz: “aqueles que mostram guerras nos desencorajam a ter atitudes tão promíscuas, como “O Pianista”, de Roman Polanski. Outros apresentam um lado romântico, bonito e até ilusório da sociedade, fazendo-nos apaixonar por algo que nem sabemos o que é. “Romance”, de Guel Arraes, faz isso.


Guerra, uma mensagem de paz


Bons roteiros, eficiência na performance dos artistas, efeitos visuais e sonoros, são os primeiros aspectos que cativam o público nos cinemas. Não pairam dúvidas que a “Sétima Arte” se revela extraordinária. Produções cinematográficas lançadas nos últimos anos revelam a capacidade que os cineastas possuem em escrever e dirigir filmes que levam verdadeiras multidões às salas de exibição. Os efeitos multifacetários das películas vão além do mero glamour. As formações de opinião e de comportamentos pacíficos também fazem parte do contexto do cinema.


A repercussão de determinados gêneros de filmes ultrapassam fronteiras. A ficção e a realidade, atreladas ao sucesso, provocam discussões calorosas por todo o mundo. Em decorrência da divulgação na mídia e das premiações, os longas se tornam pautas de discussão na vida das pessoas, no que se poderia chamar de efeito agenda setting.


As produções com o tema guerra retratam especialmente este fenômeno, por apresentarem, em sua grande maioria, fatos históricos e verídicos que se tornaram verdadeiros legados da humanidade. Ao explorar o lado emocional do público, através de elementos que apelam para o aspecto sensorial como músicas, efeitos especiais, dentre outros, pode-se observar que os filmes provocam as mais variadas reações, de perplexidade à comoção. Os conflitos armados, a violência, o caos, o drama e a barbárie trazem ao público, um leque de reações e percepções que podem ser extraídas para a realidade.


Um bom exemplo sobre isso é “A Lista de Schindler”, filme baseado no livro “Schindler's Ark”, de Thomas Keneally. A história consegue aproximar guerra e paz ao mesmo tempo em que o longa-metragem mostra o nazismo da forma mais crua. São mostrados massacres de judeus em grande número.


Em “O Resgate do Soldado Ryan”, observa-se o ápice do contraponto entre paz e guerra quando um grupo de soldados, ao desembarcar na Normandia, recebe a missão de resgatar, com vida, um soldado. Em sua produção, Steven Spielberg expõe todo lado nefasto da guerra com cenas de brutalidade, ao passo que transmite a necessidade do convívio harmônico e pacífico entre as nações.


Edward Zwick, diretor dos filmes “Diamantes de Sangue” e “O Último Samurai,” lançou, recentemente, seu último filme, “Um ato de liberdade”. Baseado em fatos, o longa mostra as ações de bravura de dois irmãos judeus que, ao fugirem da perseguição nazista, se escondem em uma floresta e lutam pela sobrevivência e liberdade.


Muitas produções cinematográficas, independentemente do gênero de que se tratam, podem ajudar na formação de valores e, portanto, ajudarem na promoção da paz. Nos roteiros variados há sempre mais de um lado, um viés pelo qual a repercussão de um filme pode causar na vida das pessoas. O cinema, sem dúvida, é um meio para conscientização de que a paz se faz necessária além da ficção, hoje e sempre.

Paz no Funk

Henrique Frederico
Fabrício Calazans
Israel Campos
Funk pede paz

Estilo musical não é bem visto na sociedade, no entanto, os funkeiros querem mudar essa situação

O Funk carioca, diferentemente do norte-americano, é um tipo de música eletrônica originado nas favelas do Rio de Janeiro, surgido na década de 1980. No entanto, para a maioria das pessoas, este estilo musical é associado ao crime organizado, ao apelo sexual e à violência. Os funkeiros procuram dissociar essa imagem. Porém, não é fácil.

De acordo com professor de História e pesquisador da UFRJ, Micael Herschmann, em um artigo sobre “A imagem das galeras Funk na imprensa”, o estilo musical é importante, pois proporciona aos jovens uma nova forma de representação social que lhes permitem expressar seu descontentamento e insatisfação. Herschmann não acredita que as letras de música que citam a violência possam influenciar nas atitudes dos jovens que as escutam.

Existem dois tipos de Funk cariocas: o Proibidão e o próprio Funk. O Proibidão tem letras que fazem apologia ao uso de drogas e de enfretamento à polícia, enquanto que Funk original não é associado ao crime e tem as letras mais moderadas. A professora carioca, Karla de Oliveira Santos, 23 anos, gosta de Funk, no entanto, ela recrimina o Proibidão, que, segundo ela, está invadindo as favelas cariocas. “No Proibidão tem muitas meninas com roupas indecentes e os homens têm sempre a mesma característica: boné de aba reta, camisa listrada. No Funk do morro, também há muitos jovens da alta sociedade que vão para a favela em busca de drogas”.

Entretanto, ela costuma ir em casa de shows que tocam o Funk original. “Eu gosto muito de Funk e costumo ir a locais onde tocam música mais romântica. Para dançar, não há nada melhor que o Funk”.


Confira as diferenças entre o Funk e o Proibidão:


Há várias diferenças entre o Funk original e o Proibidão. Confira nos vídeos abaixo:

Versão Proibidão:

http://www.youtube.com/watch?v=1TY4ep9_2dw

Versão Funk:

http://www.youtube.com/watch?v=HRDQn3n8pkc&feature=related



Preocupação com a paz

Foto: Arquivo pessoal









Galera que curte o Mc Marcinho

O jovem Bruno Bourquim Peixoto, de 16 anos, diz que começou a gostar de Funk a partir de 2003. Naquela época, os expoentes da música eram os Mcs Marcinho, Renatinho, Alemão, Cidinho e Doca. No entanto, ele passou a aderir o Funk quando conheceu o estilo Proibidão.

A mudança foi tanta que Bruno Peixoto passou a se autodenominar MC Bruninho e começou a compor músicas. Ele também não concorda com a associação do funk com violência. “Cada Mc tem o seu foco. Uns gostam do estilo melódico, outros de música apaixonada. Têm aqueles que suas letras possuem apelo sexual e de apologia ao crime. Entretanto, isso vai de cada Mc.”.

Segundo ele, os Mcs estão preocupados em dissociar o funk e a violência. “A paz sempre prevalece nos bailes. E, para que todos possam curtir um bom som, os mcs, no início dos shows, falam para não ter brigas e nem confusão. Muitas vezes a sociedade pensa que o funkeiro é criminoso, mas, na verdade, ele apenas retrata a verdadeira cara do mundo de uma forma diferente”.

Fonte: UFRJ\Divulgação







O professor e pesquisador Micael Herschmann tem vários estudos sobre o Funk


Sociólogo faz um raio-x do Funk

Como qualquer animal, o ser-humano também tem instintos violentos contra sua própria raça. O conflito de território, a superioridade de sua identidade diante do outro, a necessidade de se impor socialmente é uma das características que o jovem da cultura Funk se encontra. O sociólogo, Oscar Dutra, pesquisador da PUC - Minas, conta que a músicas inspira os anseios sociais e acompanha o homem desde os primórdios. “Os jovens de hoje não são exceções desse processo histórico, no qual a música é um fator estimulante à vida”.

Segundo ele, o Funk virou inimigo número um da sociedade quando conquistou a juventude. Ao se transformar em modismo, os setores conservadores da sociedade se apavoram e reagem, acredita Dutra. "No momento em que o Funk ganha a cena e é demonizado pela mídia, os jovens aparecem como os grandes inimigos da sociedade", diz.

De acordo com Dutra, a classe média tomou o Funk como um porta-voz do tráfico, nas décadas de 90 e 2000, quando deveria usá-lo como um canal para chegar aos segmentos sociais mais pobres e passar uma mensagem pedagógica. Todavia, Dutra acredita que o Funk espelha uma realidade muito dura e funciona como crítica social, mostrando o quanto é difícil para estas pessoas aderirem ao mercado de trabalho.


Baixe a música “Era só mais um Silva” que pede paz nos bailes Funk:

http://www.4shared.com/file/44989819/255c2542/RAP_DO_SILVA__Original_.html?s=1


Letra de "Era só mais um Silva


Todo mundo devia nessa história se ligar
Porque tem muito amigo que vai para o baile dançar
Esquecer os atritos, deixar a briga pra lá
E entender o sentido quando o DJ detonar(Solta o Rap DJ)

Era só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família

Era um domingo de sol, ele saiu de manhã
Pra jogar seu futebol, deu uma rosa para irmã
Deu um beijo nas crianças, prometeu não demorar
Falou para sua esposa que ia vim para almoçar


Porque Era só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um SilvaQue a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família



Era trabalhador, pegava um trem lotado
Tinha boa vizinhança, era considerado
E todo mundo dizia que era um cara maneiro
Outros o criticavam porque ele era funkeiro
O funk não é modismo, é uma necessidade
E pra calar os gemidos que existem nesta cidade
Todo mundo devia nessa história se ligar
Porque tem muito amigo que vai para o baile dançar
Esquecer os atritos deixar a briga pra lá
E entender o sentido quando o DJ detonar


Mas Era só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família


E anoitecia, ele se preparava
E pra curtir o seu baile que em suas veias rolavam
Foi com a melhor camisa, tênis que comprou suado
E bem antes da hora, ele já estava arrumado
Se reuniu com a galera, pegou o bonde lotado
Os seus olhos brilhavam, ele estava animado
Sua alegria era tanta ao ver que tinha chegado
Foi o primeiro a descer e por alguns foi saudado
Mas naquela triste esquina um sujeito apareceu
Com a cara amarrada, sua mão estava um breu
Carregava um ferro em uma de suas mãos
Apertou o gatilho sem dar qualquer explicação
E o pobre do nosso amigo que foi pro baile curtir
Hoje com sua família ele não irá dormir


Porque Era só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família


Naquela triste esquina um sujeito apareceu
Com a cara amarrada, sua mão estava um breu
Carregava um ferro em uma de suas mãos
Apertou o gatilho sem dar qualquer explicação
E o pobre do nosso amigo que foi pro baile curtir
Hoje com sua família ele não irá dormir


Mas só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um SilvaQue a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
Era só mais um SilvaQue a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família
É só mais um Silva
Que a estrela não brilha
Ele era funkeiro mas era pai de família









Paz na Escola

Uma batalha para a paz



Problemas de violência que atinge escolas em todo o Brasil
ganha destaque após agressão de professor


Crianças durante a aula de Artes

Cerca de dois meses, a Escola Estadual José Bonifácio, localizada no bairro Santa Tereza, foi palco de um constrangimento. Aluno do terceiro ano agrediu um professor. O caso ganhou repercussão e opiniões diversas. A reportagem pretende fazer um panorama da violência nas escolas e dar voz não só aos alunos e aos professores, mas também para aqueles que convivem diariamente com esses fatos, os vizinhos.


Os professores (Thiago Pereira)

Atualmente a paz não é um atributo comum às salas de aula. Agressões físicas, verbais, morais e também psicológica formam, em muitas das vezes, o cenário da sala de aula brasileira. A relação professor e aluno foi menosprezada, há um desinteresse mútuo que vem prejudicando o ensino do país.

Professores desrespeitados, com medo, agredidos, ameaçados. Uma série de profissionais que agora repensam a carreira e abrem mão de sonhos por em virtude dos traumas que sofrem enquanto lecionam.

A professora de História Maysa Alcântara afirma já ter passado por casos de agressões verbais e físicas, de acordo com ela isso vem acontecendo em sua vida há dois anos. Maysa já leciona a mais de 18 e afirma que esta desiludida com profissão e não vê a hora de se aposentar.

O corpo discente de professores da Escola Estadual José Bonifácio adotou uma postura mais firme após a agressão e o aluno foi expulso.

Repensar a violência em relação aos professores é importante, criar motivação para que estes se sintam interessados em ensinar.

Em conversa com o professor Antonio Carlos a importância da motivação se tornou visível, ele ressalta o desrespeito ao seu trabalho por parte dos alunos que o ignoram em sala de aula.

Os casos não param por aí. Em São Paulo uma professora não sai mais de casa com medo das ameaças feitas por seus alunos. O motivo das ameaças: a adoção de uma postura mais séria. A professora esta com a síndrome do pânico e afirma que não foram apenas as ameaças que gerou tanto medo, mas também as tentativas de assassinato.

É preciso que seja restabelecida a paz nas salas de aula do país. A escola é a base para uma vida melhor, é por isso que ONGs como Educadoras para a paz vêm motivando uma mudança na relação aluno e professor, focando o respeito e disciplina.

O trabalho é desenvolvido através de conversas com psicólogos, prática de esportes, música e teatro. O projeto contempla escolas da periferia de Belo Horizonte, que desde a intervenção da ONG tem apresentando um grande progresso. É preciso paz para aprender e paz para ensinar.


Os alunos (Rafael Vital)

A violência acontece por parte dos alunos, mas professores também têm parcela na culpa. De acordo com o aluno João Carlos alguns professores são agressivos e aproveitam sua posição em sala de aula e abusam da autoridade para humilhar e prejudicar os estudantes. O que se conclui é: quando um professor humilha um aluno o faz de forma velada, mas perceber esse abuso de autoridade é o primeiro passo para ajudar a entender a atual situação da violência na escola.

Alguns tipos de violência praticada por professores merecem destaque, dentre elas, a negligência. Os professores que ocupam cargos públicos burlam aulas apresentando atestados médicos para se manterem em casa. Esse tipo de atitude não permite que o aluno crie vinculo com o professor, prejudicando o andamento do ano letivo. O estado tenta resolver esse problema colocando substitutos para ocuparem o cargo temporariamente, mas, tal situação não contribui e a retomada do ensino é lenta.

A violência praticada pelo aluno na escola José Bonifácio traz desdobramentos cada vez maiores, como a importância do tratamento psicológico dos alunos. Em depoimento sobre o fato, os estudantes ficaram divididos, uns afirmam que sentem medo, já outros nem ligam para os acontecimentos como é o caso da estudante J. L. do segundo ano que afirmou: “o clima na escola não é tão ruim, existem brigas e casos graves de agressão, mas é minoria”. Já o estudante da 6ª série E. S., 12 anos, pensa ao contrário e disse ter medo dos alunos favelados. A afirmação do aluno apresenta o descaso da escola em relação ao combate do preconceito, e nesse momento o professor deveria se mostrar atuante, já que é o membro que tem a ligação mais forte com os estudantes.

Existem várias formas para resolver tal situação, e a indiferença dos professores certamente não irá ajudar. Trazer a cidadania pode ser um bom começo, tratar os temas de forma aberta, integrar os alunos trazendo a discussão para a sala de aula, gerando um processo de reflexão coletiva.


Os vizinhos (Cintia Juliane)

Como os vizinhos da escola vêem atual situação da violência nas escolas? Segundo a estudante, Daiane Ruas, “esse problema, vem de casa”. Diane mora perto da Escola Municipal Santos Dummond e de acordo com ela “o problema é visível” afirma. Diane destacou que já presenciou agressões na porta de seu prédio.

As escolas não são participativas e empenhadas como deveriam e a busca pela paz pode ser vista nos protestos e nas passeatas das comunidades. Mesmo assim essa paz, segurança e conforto ainda não foram encontrados nas dependências nem nos arredores das escolas.

Paz é uma palavra da qual nossos jovens só conhecem na teoria, diante da insegurança e da vulnerabilidade que se vive nos dias de hoje. Martha Guimarães, vizinha da Escola Estadual Leopoldo de Miranda disse que não percebe um suporte da escola que vise à proteção dos alunos “muitos ficam na rua após a aula e nesse período o trêfego de carros na região é grande” comenta. A falta de estrutura e cuidado tanto com as escolas quanto com a comunidade é com certeza um dos problemas mais tênues. Visar à paz nas escolas é também dar paz para quem mora perto.


Foto retirada do site: http://www.guarda.pt/noticias/actualidade/PublishingImages/escola.jpg

PAZ NA SEXUALIDADE

Leandro Mariano
Renata Martins


Sexualidade não revelada e o medo de se expor frente à sociedade

QUANDO CHEGA A PAZ


O que se passa na cabeça dos homossexuais, antes e depois de revelar aos pais e à sociedade, o modo como eles são felizes.


A questão da homossexualidade ainda gera muita polêmica em torno da sociedade brasileira, mas, o índice de pessoas que assumem a sua sexualidade, vem crescendo nos últimos anos. Hipoteticamente, umas das explicações para isso, é a forma como as pessoas vivem hoje, com mais liberdade de escolhas e não tão ligadas às culturas e tradições ultrapassadas.


Quando um gay descobre qual o ponto forte da sexualidade, em primeiro lugar, há uma tentativa de esconder esse sentimento e, a aceitação de si próprio, não é imediata. A estudante de publicidade, Júlia Diniz, 22, conta qual foi sua reação ao se deparar homossexual. “Quando descobri que era lésbica, por volta dos 17 anos, não queria me aceitar e não conseguia entender o desejo que tinha por mulheres. Tentei, em vão, ficar com homens e provar pra mim mesmo que eu poderia ter essa opção. Com o tempo fui me acostumando e, finalmente, comecei a namorar com uma garota”, afirma.


Em meio aos conflitos internos, a pessoa se prepara para afirmar sua sexualidade para os pais e para a sociedade. O preconceito é o maior gerador do medo na hora de se expor e confirmar seus desejos. “No início foi muito difícil, minha mãe ficou cerca de quatro meses sem conversar comigo. Sofri muito, mas hoje consigo lidar muito bem com isso. Meus amigos me apóiam e querem me ver feliz. Tenho orgulho de ter passado por tudo que passei e ter encontrado a felicidade. Namoro e faço planos de morar com minha namorada e, futuramente, adotar um filho com ela”, diz Júlia.


Essa falta de compreensão dos pais afeta a formação da personalidade dos gays. Quando ele tenta ir contra seus princípios (da sexualidade e amor), há uma perda da identificação da pessoa e uma desconstrução de sua personalidade. De acordo com a psicóloga Ana Cláudia Alvim, as queixas mais frequentes dos homossexuais têm relação com a família. “As maiores rejeições são de caráter familiar e social. Chega um ponto tão estressante e dolorido, que o próprio relacionamento, mesmo cheio de amor, muitas vezes não segura a intensidade da pressão sofrida”, explica a psicóloga.


O caminho a ser percorrido pelos homossexuais é extenso. Existe um trabalho voltado para a mudança de valores culturais, educacionais e religiosos. Mas, em algum momento, as pessoas devem entender que isso é natural e deve ser vivido sem rótulos e culpa. “Eu não optei por ser homossexual, foi espontâneo e natural. Acho que todos estão suscetíveis e tendenciosos a terem essa sexualidade aflorada”, afirma o estudante de economia, Leonardo Ribeiro, 20. “O que eu quero é respeito, não espero que todos me entendam”, diz ele. De acordo com Ana Cláudia, chegaremos a um ponto onde não exista diferenciação de gênero (masculino e feminino). “As pessoas serão identificadas não de acordo com o sexo biológico delas, o feminino e o masculino não estará mais vinculado ao sexo”, explica a psicóloga.


Enquanto isso não acontece, os homossexuais se apegam às pessoas que respeitam seu modo de vida. “Se hoje as pessoas que mais amo no mundo me apóiam, não deixaria de viver em paz e ter uma vida absolutamente normal. A felicidade está do meu lado, e, prova disso, é o meu estado de espírito”, afirma Júlia.


OS DOIS LADOS DA MOEDA


Você já parou para pensar em quanto um pai deve ficar decepcionado quando descobre que um filho é gay? Ainda mais aqueles que sonham em ver os filhos casando em uma igreja, lhe dando netos. Geralmente esses pais são pessoas conservadoras e estão dotados de valores antigos, de uma sociedade preconceituosa e egoísta que não pensa na felicidade, mas sim, em seguir costumes arcaicos e viver de aparências, como se todo casal “hetero” fosse feliz da vida.


Há uma cultura por trás disso que é difícil de ser mudada. E, para tal, vai levar algum tempo. Não é fácil mudar tradições e preceitos de milhões de pessoas. Cada um tem um princípio que deve ser respeitado. Por isso pergunto:


Você já parou para pensar no quanto um filho fica triste ao saber que seus pais não o apóiam em decisões que o afetará a vida inteira? É tão fácil dizer que a homossexualidade é uma opção sexual. Partindo desse princípio, os gays escolhem se esconder e serem alvo de preconceitos dentro e fora de casa. Seria tão mais fácil para todos. Casar, ter filhos, ser a perfeita marionete que todo pai quer. Isso é natural, é a segurança que eles querem passar, é o querer cuidar. Mas não dá pra ser sempre assim, todo mundo tem direito à liberdade e a viver feliz - independente da forma. Há coisas mais importantes pra se preocupar, importa o caráter, o respeito.


Essa eterna luta dos homossexuais em busca dos seus direitos vai perdurar durante um bom tempo, até que, esse preconceito vá aos poucos, acabando. A batalha contra a discriminação deve ser ferrenha, tanto quanto acontece para a raça e a religião.



UMA PALAVRA QUE TRANSFORMA


Uma coisa que incomoda os gays é a questão de dizerem que ser homossexual é uma escolha. O significado da palavra opção, de acordo com o dicionário Aurélio, é o ato ou faculdade de optar; livre escolha; direito de preferência. Como pode alguém escolher algo que envolva sentimento?

É o questionamento que Rafael Miranda, 21, faz quando se trata do assunto. O estudante de engenharia mecânica conta que, mesmo dentro da universidade, um lugar que se pressupõe que haja pessoas com mente esclarecida e aberta, há inúmeras pessoas que mantêm esse tipo de atitude discriminatória. A seguir, o depoimento de Rafael à nossa reportagem:


Eu odeio quando essas pessoas falam que ser gay é uma opção. Não é! Me diga, como alguém pode escolher seguir por um caminho cheio de pedras, um caminho de preconceitos em que sua própria família te renega? O pior é quando quem diz isto são pessoas formadoras de opinião, como psicólogos em entrevistas sobre o assunto. Pior ainda é quando, sem pensar no que fala, um gay diz ‘essa é minha opção sexual’. Não existe opção sexual. Não é assim que as coisas funcionam e temos que mudar isso. Parece bobagem mas não é. Muitas pessoas acham mesmo que nós escolhemos ser assim. Digo sim, por todos os homossexuais do mundo, a gente não escolhe. Se você é gay e diz que escolheu, me desculpe, mas você está mentindo para si mesmo. Eu nunca escolheria ter sido expulso de casa aos 17 anos, eu nunca escolheria ter que me matar de tanto estudar para entrar em uma faculdade pública para ter alguma profissão, eu nunca escolheria ficar sozinho em meu aniversário, sem minha família e em uma cidade que eu não conheço, eu nunca escolheria ficar sem meus amigos de infância, que hoje eu vejo que não eram verdadeiros amigos, mas eu gostava deles. Se pudesse escolher eu não estaria aqui falando com vocês sobre este assunto, estou aqui por ser gay, se eu não fosse homossexual eu estaria com meus pais, em São Paulo, na minha casa, no meu lar.”


Este foi o depoimento de um homossexual que foi expulso de casa aos 17 anos, quando seu pai descobriu que ele namorava o vizinho. Rafael foi encontrado pela nossa equipe no consultório da psicóloga Ana Cláudia Alvim, onde faz terapia desde que chegou a Belo Horizonte, em 2006.



Júlia Diniz e Juliana Ribeiro, namoradas a 5 meses

Paz na favela

Iêva Tatiana
Ludmila Rates
Raquel Emanuelle

A paz é possível, basta o envolvimento de toda a comunidade

Associações e ONGs fazem o papel do Estado levando educação, cidadania e religião aos moradores de vilas e favelas


No Brasil, as favelas são frequentemente associadas à violência, tráfico de drogas e reduto daqueles que vivem às margens das leis que regem o País. Muitas delas, no entanto, lutam para vencer esse paradigma e mostrar que a paz também pode existir dentro dos aglomerados urbanos.

Existem, hoje, diversos projetos de inclusão social e de combate à violência nas favelas. A maioria deles visa atingir o público jovem, de forma que, no futuro, sejam formados adultos com consciência de cidadania, paz e respeito ao próximo.

No bairro Cabana do Pai Tomás, região oeste de Belo Horizonte, a iniciativa de atender crianças e jovens foi da paróquia local, que criou o Centro Juvenil Dom Bosco, em dezembro de 1988, com o propósito de desenvolver ações educativas e preventivas, voltadas para a promoção e a proteção de crianças e adolescentes.

O projeto oferece oficinas de esporte, lazer, cultura e profissionalização, além de prover apoio pedagógico e psicológico. Aos domingos, a comunidade é convidada a participar do Centro Juvenil Festivo, que reúne o público atendido e os convidados em um ambiente de confraternização e convívio social.

Há dez anos, como parte da proposta de educação do Centro Juvenil, foi criado o curso Pré-Universitário Padre Sebastião Teixeira, o Pré-Upset, que prepara os alunos do Cabana para o vestibular da UFMG, principalmente.

Segundo a secretária do curso, Natália Klik, além das aulas, os alunos recebem orientação vocacional, são acompanhados por seminaristas, para que tenham contato com a espiritualidade, e, mensalmente, os aniversariantes são festejados com bolo e guloseimas.

Aos melhores alunos do Pré-Upset, a recompensa: uma parceria firmada com o Instituto Metodista Izabela Hendrix garante a concessão de bolsas comunitárias. Depois de ingressarem na faculdade, os jovens são convidados a se integrar ao projeto como voluntários.

Klik lembra que houve uma época em que a violência fazia parte do cotidiano da comunidade do Cabana do Pai Tomás: “Já aconteceu de gente entrar no Centro Juvenil atirando nas pessoas”. Hoje, são os jovens que procuram a oportunidade de estudar e ter uma qualificação profissional, negando a premissa de que a origem condena o futuro.


Mães lutam para afastar seus filhos da marginalidade

A vendedora Lourdes Barbosa já morou com os três filhos em um dos becos mais perigosos do Cabana. Atualmente, ela vive com o filho caçula próximo à favela, no bairro Madre Gertrudes. Segundo a vendedora, a mudança de residência se deu por vários motivos, um deles era a faixa etária em que seus filhos se encontravam. “Eles estavam entrando na adolescência e eu não conseguia saber todos os passos deles, pois trabalhava o dia inteiro”.

A comercialização de substâncias entorpecentes é comum em várias comunidades carentes de Belo Horizonte e é por meio do tráfico que se estabelece o contraditório poder paralelo. “Os moradores ficam literalmente submissos aos traficantes”, afirma o tenente reformado da Polícia Militar Pedro Evangelista. Mas, segundo Lourdes Barbosa, mesmo com tanta violência há um fator positivo: “Não temos medo de assaltos, roubos ou outro tipo de violência, os traficantes não deixam. Eu podia deixar a minha casa aberta que ninguém roubava”.

Outro motivo para a mudança da comerciante foi a rivalidade entre traficantes e policiais. “Já presenciei muitos tiroteios, não só entre gangues rivais, mas de policiais contra os traficantes”, comenta Barbosa. Além disso, a comerciante afirma ter visto, várias vezes, armas sendo conduzidas perto de seus filhos: “Meu caçula brincava de carrinho no passeio enquanto o traficante limpava a arma ao lado dele”.

O filho mais velho de Barbosa, Djavan Baião, foi o maior motivo da mudança. “Ele começou a se envolver com drogas e eu não conseguia fazer nada”, afirma a vendedora. Segundo o primogênito, o envolvimento com o cristianismo fez com que ele se livrasse da dependência. “Jesus me libertou das drogas”, afirma Baião, que se diz livre das substâncias há mais de dez anos.

A família da comerciante, com exceção do caçula, frequenta os cultos evangélicos de uma das várias igrejas próximas à comunidade. O crescimento da fé cristã atingiu, também, as comunidades mais carentes de Belo Horizonte. A Pedreira Padre Lopes, por exemplo, recebe voluntários de uma igreja todos os sábados. “Além de vários trabalhos de cidadania, nós introduzimos os preceitos e ensinos da fé cristã”, afirma a voluntária Valéria Ramos.

O grito de paz nas favelas vem ganhando coro a cada dia, ecoando nos becos e vilas, levando esperança àqueles que anseiam o fim da violência e a tantos outros que sonham com dias mais calmos.


O desenho como voz


Ação cultural no bairro Alto Vera Cruz


O foco artístico do grupo é o grafite. Alto Vera Cruz, Boa Vista, São Geraldo, Sagrada Família. Quem mora nesses bairros conhece o trabalho do GFD – Grandes Fãs de Desenho ou Gion, Frank e Dudu, como explica Eduardo Alves da Silva, 30, um dos integrantes. Há quase cinco anos, os três amigos colorem as ruas da periferia de Belo Horizonte e repassam a arte do grafite a outros jovens.

A iniciativa surgiu do encontro nas oficinas de desenho e grafite do Programa Fica Vivo, criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho alia ações preventivas mobilizando os jovens das comunidades em oficinas educativas, culturais e profissionalizantes. De acordo com o site das
Nações Unidas, os resultados do Programa são animadores: “Na favela Morro das Pedras, o número de homicídios, tentativas de homicídios e assaltos caiu, aproximadamente, 50% em relação aos cinco meses anteriores à sua execução”.

A eficácia das ações focais, no entanto, depende da continuidade dada pelos próprios moradores. Para Silva, ou Edu, como é mais conhecido pelos amigos, a participação no projeto foi importante: “Foi através dele que pude mostrar o meu trabalho, fazer amizades, desenvolver trabalho em equipe”. E graças ao seu esforço e dedicação, Edu teve a oportunidade de estudar na Escola de Quadrinhos Planet Comics, fazer o curso de artes plásticas promovido pelo Arena de Cultura e participar de três edições do Festival Internacional de Quadrinhos de BH (FIQ-BH). Mas Edu e companhia não pararam nas oficinas e projetos individuais. Levaram para as ruas das comunidades a arte que aprenderam em suas experiências.

Desde que começou, em 2004, O GFD ensina as técnicas para quem quiser aprender através de eventos ou ações culturais que promovem verdadeiras galerias de grafite a céu aberto pelas ruas. Nos muros, paredes e fachadas, são desenvolvidos pelos artistas da comunidade “trabalhos relacionados a temas, tais como cidade, favela, família, amigos, etc.”, diz Edu. Ainda de acordo com o artista, existem planos para a produção de trabalhos em diversas linguagens da comunicação, como animação, pintura em tela, em tecido, camisetas e adesivos, através da Equipe/ Estúdio Infinity Works.

O exemplo do grupo é um entre tantos outros que têm contribuído para a disseminação da arte de rua. “Assim como o GFD, também existe o grupo Rups3, o Setor 9, e muitos outros, que fazem trabalho semelhante. É importante ressaltar que grafite como forma de expressão não é apenas diversão, mas, também, protesto e é esse o meio que os artistas da periferia têm para mostrar a realidade da comunidade, seja ela boa ou ruim, é a nossa voz”, diz Edu.


Apelo pela paz ganha melodia


“Tô cansado de ver os malucos morrer. Na esquina, na quebrada, e a mãe deles sofrer. Isto é culpa da sociedade, do preconceito. Falam quem veio da favela, não é direito” (sic).

É assim que MC Death começa seu rap, A Favela Pede Paz, como forma de expressar indignação e revolta contra a violência nas favelas que, segundo ele, na maioria das vezes, é provocada pela polícia e pelo descaso das autoridades.

Comumente, são os próprios moradores dos aglomerados que compõem canções para denunciar os abusos, a opressão e a violência que sofrem.

A banda paulista Racionais MC’s, conhecida pelas letras que denunciam a desigualdade nas sociedades brasileiras, também defende a paz nas favelas do Brasil, como na música Fórmula Mágica da Paz:

“Não vou trair quem eu fui, quem eu sou. Gosto de onde eu estou e de onde eu vim. O ensinamento da favela foi muito bom pra mim. Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei. Cada lei uma razão, e eu sempre respeitei”.

“Eu vou procurar, sei que vou encontrar, vou procurar. Vou procurar, você não bota uma fé, mas eu vou atrás da fórmula mágica da paz” (sic).

Não é raro as músicas dos rappers brasileiros tocarem como um desabafo, falando do dia-a-dia das favelas do País e mostrando como vivem, paralelamente, a realidade violenta e a busca pela paz.

PAZ NO TRÂNSITO

Alunos, na pista simulada, aguardando para atravessar a faixa.

Juliano Nunes
Alexandre Cabral
Sergio Santana


UM ESPETÁCULO SOBRE TRÂNSITO


O projeto “Circo Transitando Legal”, criado pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte – BHTRANS –, existe desde 1999, em caráter itinerante. Em 2000, ganhou um espaço físico permanente na sede da empresa, no bairro Buritis, região Centro-Sul da capital. De acordo com o representante da BHTRANS, Cesar Teixeira Lopes, a procura das escolas é grande e há muitas esperando para participar do projeto.

Semanas antes das apresentações, acontecem reuniões entre funcionários da BHTRANS e professores da escola participante. Nos encontros são definidas condutas e pré-ensinamentos para as crianças, visando um trabalho preparatório. “Este primeiro contato serve para que a equipe do projeto e as professoras se conheçam”, concluiu Cesar Teixeira.

Assim que chegam ao local, as crianças avistam um conjunto via/faixa/sinal, em escala real. Ao desembarcarem, elas recebem o primeiro aprendizado: respeitar e atravessar, junto com os monitores, no momento certo. “É sempre um desafio trabalhar com as crianças. Elas são curiosas e aprendem rapidinho”, afirmou Francisco de Assis, um dos monitores do projeto, cercado pelos alunos.

Sob a lona, uma peça circense é apresentada aos estudantes. Para a professora da Escola Estadual “Amelia Josefina”, Maria Auxiliadora, uma das maneiras mais eficientes para ensinar as crianças é através de atividades lúdicas. “Elas brincam, riem, se divertem e aprendem com todo este cenário montado para elas”, justificou. Durante o espetáculo, são abordados temas como: uso do cerol em pipas e papagaios, utilização do cinto de segurança, lixo nas ruas e travessia na faixa de pedestres.

As apresentações são realizadas por oito meninos de 16 a 18 anos que formam o grupo de palhaços e malabaristas, selecionados pela Associação Municipal de Assistência Social – AMAS –. Eles vivem em áreas de risco da capital e, ao completarem 18 anos, são transferidos para outras áreas da BHTRANS – geralmente como office boys –, para continuarem empregados e com carteira assinada. “Trabalhar aqui é muito bom. Ver o sorriso das crianças, ensinar e depois ser contratado com carteira assinada nos estimula a fazer cada dia melhor”, enfatizou Carlos Almeida, um dos adolescentes beneficiados pelo projeto.

Público atento durante a apresentação



CAMPANHAS PARA UM TRÂNSITO MELHOR


Além do “Circo Transitando Legal”, voltado para crianças e adolescentes, futuros motoristas, várias campanhas são desenvolvidas pela BHTRANS junto aos que já dirigem pelas vias da capital. O gerente da companhia, Cesar Teixeira, destaca os projetos "O Amigo da Vez", "Álcool X Trânsito”, "Agente de Trânsito - Conte com a Gente", "Celular: não Fale no Trânsito", "Álcool e Direção: Não Perca o Melhor da Festa, se Beber não Dirija", "Respeitar a Faixa de Pedestre, um Negócio da China", "Volta às Aulas" e "Paz no Trânsito". “Precisamos orientar e conscientizar a quem vai dirigir no futuro e aos condutores do presente. È melhor do que multar”, acrescentou Teixeira.



A empresa que gerencia o trânsito de Belo Horizonte ainda participa no planejamento e apoio do evento "Na Cidade sem meu Carro", realizado anualmente no dia 22 de setembro. Trata-se de um acontecimento do qual participam centenas de cidades da Europa e América Latina. Desde 2000, a BHTRANS apóia a iniciativa. Teixeira justifica a presença da companhia no projeto devido ao fato de ele beneficiar também o meio ambiente. “Este projeto é muito importante porque acontece em âmbito mundial. Todos somos responsáveis por um pouco da poluição atmosférica e precisamos colaborar também”, enfatizou.

Nos últimos 10 anos, a frota de veículos de Belo Horizonte cresceu 552%, atingindo cerca de 1,1 milhão de unidades, segundo dados da BHTRANS. Na área central, entre as 6 e as 20h, o fluxo de carros aumentou 20,7%. Ainda de acordo com a empresa, a circulação de automóveis aumentou rapidamente em detrimento da velocidade média, que caiu significativamente. “Com um quadro como este, é fundamental que a empresa responsável pelo gerenciamento do trânsito da capital faça sua parte e trabalhe com qualidade e rapidez. O cidadão paga impostos e precisa ter garantida sua liberdade de circulação”, conclui César Teixeira.


Artista durante o espetáculo


Entrevista


O analista de Relações Comunitárias da Gerência de Educação para o Trânsito – GEDUC –, Ronaro Ferreira, fala sobre o trânsito em Belo Horizonte. A GEDUC é o setor da BHTRANS responsável pelos projetos voltados para educação nas vias públicas da capital.


Como definir o trânsito atual?

Ronaro Ferreira: O trânsito acontece em espaço público, e as pessoas precisam negociar a utilização deste espaço. Esta negociação nem sempre acontece numa boa. Muitas vezes ela é feita de forma conflitiva, e nem sempre de igual para igual.
Então, vamos pensar, qual é o meio de transporte que transporta maior número de pessoas?

Seria o ônibus, em vias públicas?

RF: 42% da população se locomovem no ônibus, 27% andam em automóveis, 3% andam em motocicletas, se tivéssemos que definir uma pista exclusiva para meio de transporte, qual mereceria receber essa pista?

O ônibus, que seria o transporte público.

RF: Na prática onde existe pista exclusiva para ônibus, por exemplo, na avenida Amazonas, na avenida Paraná, na avenida Santos Dumont... e ela (pista exclusiva) não tem sido respeitada pelo pessoal do automóvel... Cada um acha que ele tem preferência, que a prioridade é dele. Então é ele que está no automóvel dele, é ele quem paga imposto e ele então pode andar naquela rua. Mas ele não pensa que os 42% que estão no ônibus também pagam imposto.

O que seria a violência no trânsito?

RF: A primeira coisa que ficou muito clara, é que essa coisa que chamam de acidentes de transito, e que não é acidental, isso é violência, isso gera lesão, gera morte e dano material. Então acidente de trânsito é violência. Atualmente no Brasil você tem praticamente o mesmo número de morte por de arma de fogo e de acidente de transito. Mas acho que a violência não acontece só quando você chega ao extremo de se machucar e ir parar num hospital. Quando uma pessoa quer atravessar uma rua e não consegue porque o automóvel não deixa, quando alguém quer tentar estacionar o carro e não consegue, porque o estacionamento está lotado, isso também é violência. A violência no trânsito aparece num modo mais sutil. Quando você sai de casa e encontra o ar da rua todo poluído, alguém jogou aquela poluição para você respirar. Aquela cidade deveria ser para todas as pessoas. Mas o que acontece muitas vezes é que o planejamento da cidade é feito para que você tenha a fluidez do automóvel. Estou falando das cidades em geral. É que aqui em Belo Horizonte algumas vezes conseguimos colocar as pessoas em primeiro lugar, e outras o automóvel.

Onde você vê a paz no trânsito?

RF: Quer um exemplo de lugares onde você tem um trânsito mais pacífico? Dentro de Condomínios. Porque lá é deles. Existe uma proximidade do morador com o espaço. Aquele espaço é deles e aquele espaço é bem tratado. Agora quando ele sai dali e vai para uma grande avenida no centro da cidade, aquele espaço não é dele. A prefeitura tem que cuidar daquele espaço para ele, ele não tem compromisso em garantir a qualidade de vida da avenida Afonso Pena, ele garante a qualidade de vida do condomínio dele. Na verdade estamos num processo de individualismo muito grande. Cada vez o comunitário vale menos e o indivíduo vale mais. Acho que a paz vai acontecer quando as pessoas conseguirem conviver sem estar disputando.

Paz nas Religiões

Adelle Soares

Camila dos Anjos

Lucas Ranieri



A paz de Deus

Paz entre religiões e igrejas é considerada como mediadora de um mundo melhor, mas será que ela realmente existe?


A paz é uma palavra oriunda do latim Pax, que significa tranqüilidade e calma. São vários os tipos de paz. Entre eles está a Paz Bíblica, ou seja, a Paz de Deus, a qual é muito falada nas igrejas. “Essa paz tem o poder de transformar e erguer o caído”. O amor é um dom do Senhor que trabalha em conjunto com a paz. A igreja, juntamente com a Bíblia – o manual do cristão -
atribuem a Paz de Deus como a principal responsável pela garantia de todas as outras pazes.

De acordo com Gilbraz Aragão, estudioso da paz na construção de um novo mundo, a paz entre as religiões é fundamental para que, possamos construir condições melhores para todos. “Não haverá um mundo novo sem uma paz entre os povos, e não haverá paz entre os povos se não houver paz entre as religiões. No entanto, tem que haver diálogo entre elas”, afirma Gilbraz.

Paz pela igreja

Mas o fruto do Espírito é: paz, amor, gozo, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Gálatas 5:22.

Paz na igreja é um termo que define, entre outras coisas, uma sensação interior de bem estar emocional e espiritual. Estar em paz com Deus é ter paz na família e na sociedade. Estes são os anseios de todas as pessoas. Jesus Cristo é apresentado também como o ‘Príncipe da Paz’.

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz”, Isaías 9.6
Além de liberar a paz dentro das quatro paredes dos templos, a igreja tem a responsabilidade em liberar a paz também para a sociedade. Como é dito no mais importante mandamento cristão: “Amai ao Senhor teu Deus sob todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”, Mateus 22:39. Um exemplo de paz e amor ao próximo são os voluntários da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), espalhado por todo Brasil e ao redor do mundo, que dedicam suas vidas, visitando diariamente, comunidades, hospitais, além de abrigos, asilos, presídios e casas de recuperação de drogados. De acordo com Antônio Augusto, um dos voluntários da igreja, em Belo Horizonte, “o objetivo é levar a palavra de fé aos que ainda não experimentaram a misericórdia e a paz do Senhor Jesus Cristo”.

Os grupos de voluntários visitam internados nos asilos, prestando apoio espiritual àqueles que estão abandonados ou que não recebem a visita de um filho ou de um parente há muito tempo. Nos hospitais, quando é permitido, os obreiros fazem uma oração e levam palavras de paz, fé que curam e libertam. Já nas comunidades, o trabalho é feito de porta em porta, convidando as pessoas para participar da reunião de domingo, no Encontro com Deus na Igreja.

Além da igreja Universal, várias são as denominações que se disponibilizam a fazer boas ações e distribuir o amor e a paz de Deus às pessoas que ainda se encontram necessitadas de carinho. Na Igreja Católica do Bairro Durval de Barros, em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, os membros e voluntários ajudam as pessoas da comunidade com doações de cestas de alimentação, roupas, produtos de higiene pessoal e de casa, além do apoio espiritual. “Poder ajudar as pessoas que necessitam é muito bom. Deus nos recompensa muito e não deixa faltar nada em nossa casa”, afirma uma das voluntárias da igreja e membro há 26 anos, Cecília de Abreu.


Preconceito: o vilão da paz

A paz e o bom convívio entre as diferentes denominações da mesma religião também é algo Bíblico. As igrejas, independente da denominação, são classificadas como a “Noiva de Cristo”. A referência é o livro de Cânticos dos Cânticos, onde Salomão, Rei de Israel, fala sobre o amor humano e o amor de Cristo à noiva dele, a igreja.

Mas, o que vemos em muitas denominações, principalmente naquelas que trazem um ministério e uma visão diferentes das ‘tradicionais’, não é bem uma relação de paz. Em Belo Horizonte, temos duas igrejas evangélicas com uma cultura bastante diferente das demais: a Caverna de Adulão e a Igreja Justiça e Retidão. O objetivo da criação de um ministério alternativo nessas igrejas foi o de alcançar pessoas que são vistas com desprezo e com olhar de julgamento pela sociedade em geral e também por outros cristãos. Os integrantes das duas igrejas são: metaleiros, underground, hardcore, heavy metal, góticos, punks e também pessoas comuns. Lá as pessoas de diferentes tribos são muito bem tratadas e podem ser o que realmente são.

Mas, ao sair na rua ou entrarem nas igrejas ‘tradicionais’, os cristão alternativos não são muito bem vindos, é o que conta a integrante da Caverna, Rafaela Rocha. “Muitos nos chamavam de satanistas por usarmos preto e fazermos heavy metal. Certa vez eu fui a uma igreja para comprar uma Bíblia e fui retirada por um segurança que mostrou uma arma. Achei um absurdo”, comenta Rafaela.

As pessoas que se vestem de preto e têm o corpo tatuado, além de brincos sofrem com preconceito fora, e até mesmo dentro, das igrejas. “Por ser terceiro mundo, tudo é na ignorância, até no evangelho, pois as pessoas querem tudo muito estereotipado, mas Jesus disse para irmos até a ele como estamos. Nós lidamos com isso sempre, mas ignoramos, pois somos reconhecidos como igreja e temos o registro que comprova isso. As pessoas podem falar o que quiserem, mas não podem nos mudar nunca”, afirma o pastor Rodrigo, líder da Igreja Justiça e Retidão.



Quando existe a paz entre as religiões



O conflito entre religiões marca a história da humanidade. Já foi, e ainda é, motivo de luta, disputas políticas e ideológicas. Algo que, na teoria, seria apenas para conscientizar os fiéis, ,a giosos laro dissom ssusta oje essa perseguiçoes açada a religao depassou a ser uma das principais causas de guerras.

Uma das maiores perseguições da história do homem foi religiosa, o Holocausto. A perseguição aos judeus na Segunda Guerra nada mais foi do que uma caçada a uma religião diferente da maioria predominante. Apesar de ser apontada como um abuso, hoje essas perseguições continuam e o que mais assusta é que os líderes religiosos, em alguns casos, apóiam o confronto.

Um exemplo claro é o eterno conflito no Oriente Médio, onde a religião de cada povo passou para segundo plano e tornou-se apenas um pretexto para uma guerra que já dura gerações.

Para a professora de Geografia, Cristina Renata Gauzzi Mendes, a paz no mundo depende muito do respeito e da igualdade entre as religiões. “Dificilmente será encontrada sem o apoio e a união das crenças. A Fé tem que aparecer primeiro que as disputas, cada um tem que aceitar e entender os dogmas e preceitos das outras. Estes conflitos religiosos se atenuariam se as pessoas tivessem mais consciência humana, ou seja, que os povos entendessem que todos somos seres humanos e necessitamos do respeito, da solidariedade, do afeto, da crença, de valores. Entender que a humanidade é diversa em vários aspectos, inclusive no religioso”, afirma Cristina.

Conferência Mundial das Religiões pela Paz

De acordo com Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, em Portugal, a paz mundial depende de nossa união em todos os aspectos. “Só nossa unidade poderá desprender essa sabedoria e essa capacidade necessária para mudar o mundo e ganhar a batalha da paz”, afirma Chiara. O movimento que Chiara fundou trabalha pela paz e crescimento social e espiritual de todos os seres humanos.

Um forte exemplo disso é a Conferência Mundial de Religiões pela Paz, fundada em 1970, é a maior coligação mundial de representantes das comunidades religiosas. Sue principal objetivo é promover a transformação de conflitos, a construção da paz e o avanço do desenvolvimento sustentável, a partir da união e o amor entre todos, independentemente de suas religiões. A Conferência e a discussão de assuntos de todos os aspectos: como Aids, fome, desigualdade social, abusos sexuais e as condições de vida das crianças abandonadas, acontece em eventos anuais. Cada ano é sediada por um país. Os principais países que a conferência trabalha são: Quênia, Malawi, Moçambique, Namíbia, Suazilândia e Uganda

Paz nos movimentos estudantis

Bruno Trindade
Gilmar Laignier
Paula Andrade
Com lenço e com documento
Movimentos estudantis trocam as “guerras” pela paz ao longo da história

Estudantes com identidade social controversa e acomodados às grandes manifestações. Esse é o perfil dos jovens universitários de hoje. Sem um referencial opressor como a ditadura, os ideais de outrora já não são mais os mesmos. A força do movimento estudantil, que com suas reivindicações, protestos e manifestações influenciaram os rumos da política nacional, ficou para trás.

Segundo pesquisa realizada pelo Projeto Juventude/Instituto Cidadania, em parceria com o Instituto de Hospitalidade e com o SEBRAE, os jovens contemporâneos chamam atenção pela indeterminação, pela conduta ponderada, por desconsideração de mudanças na política, despreocupação em alterar as desigualdades e pela pouca participação na política convencional.

Foi depois de muita luta, entretanto, que surgiu este aparente comodismo. A história da juventude brasileira está relacionada a grandes feitos, movimentos revolucionários, lutas por ideais e busca do poder jovem em concretizar suas utopias.


Na década de 1950, em clima de pós-guerra, falava-se na falta de sentido da rebeldia dos jovens. Para a estudante de Rádio e TV Gisele Castro, o rótulo que a juventude recebia restringia seus verdadeiros ideais: “chamar os jovens de rebeldes sem causa é ter uma visão simplista e limitada, pois essa rebeldia existiu em função da luta por grandes causas”, sentencia a estudante.

Na década de 1960, o rótulo mudou. De rebeldes sem causa, os jovens passaram a ser conhecidos por movimentos políticos ditos “engajados”. Em 1963 e 1964, os estudantes foram responsáveis pelos mais importantes momentos da agitação cultural da história do Brasil. Através do Centro Popular de Cultura (CPC) produziram filmes, peças de teatro, livros, músicas, e influenciaram toda uma geração.


Com o golpe militar, os estudantes formaram uma resistência, expressando-se por meio de jornais clandestinos, manifestações e músicas, apesar da grande repressão. O Tropicalismo, por exemplo, sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, entre outros, fizeram história renovando radicalmente as letras de músicas, que tratavam do que não podia ser dito, em função da censura dos militares.

Outra grande marca da juventude nessa época foi a literatura. O jornalista e escritor Zuenir Ventura, relata, no livro 1968 O ano que não terminou, que a geração de 1968 talvez tenha sido a última geração literária do Brasil, pelo menos no sentido em que seu aprendizado intelectual e sua percepção estética foram forjados pela leitura. “Os rapazes e as moças já tinham grande preferência pelo cinema e pelo Rock, mas suas ideias tinham sido construídas basicamente por livros”, diz o escritor.

Segundo o filósofo José Américo Pessanha, essa foi a “última geração loquaz, em que uma formação altamente literatizada lhe deu o gosto da palavra argumentativa”. Essa palavra argumentativa ressoava em alto e bom tom, em forma de palavrões. Esses termos estavam na boca dos jovens. Nelson Rodrigues dizia: “há ou não, por todo o Brasil, a doença infantil do palavrão?” Era a força das lutas e dos hábitos dos estudantes extravasados pela língua falada.

No fim da década de 1970, o movimento estudantil começou a perder força e prestígio. Desde então, existiram alguns movimentos, como as “Diretas Já”, em 1984, e os “Caras Pintadas”, em 1992, promovendo sucessivas ações contra o governo Collor, que resultaram em seu impeachment. “Desde o fim do período militar, as forças jovens têm declinado de maneira significativa. Mas o importante é que houve um processo de auto-afirmação da adolescência como entidade social e cultural”, afirma o filósofo, historiador e sociólogo Edgar Morin, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.


O sonho realmente acabou




O Brasil era só um espelho do resto do mundo, no fim dos anos 1960. Guerras e conflitos, movimentos estudantis, marchas de jovens, revolução cultural, embates ideológicos, repressões e torturas. O ano de 1967 antecipava os embates de 68 e 69. Em 15 de abril daquele ano, cerca de 400 mil pessoas marcharam até a sede das Nações Unidas, em Nova York, em protesto à Guerra do Vietnã.

Era apenas um aperitivo do turbilhão de protestos e conflitos que ainda ocorreriam no mundo inteiro. Músicos e artistas incorporaram as utopias jovens e entraram para a “guerra contra as guerras”. O Beach Boy Carl Wilson foi indiciado por deixar de se alistar. O pugilista Muhammad Ali recebeu sentença de cinco anos por também se recusar a entrar para o exército. Em 8 de outubro de 1967, Che Guevara morria e se tornava símbolo maior de todas as manifestações. No mesmo ano, Joan Baez foi presa em um centro de recrutamento de Oakland.

Em 21 de outubro, 13 dias após a morte de Che, centenas de milhares de jovens invadiram o Pentágono, sistema de operações militares americanas, e enfrentaram soldados armados. Em clima de “paz e amor”, os manifestantes enfiaram flores nos canos dos fuzis.

Para a professora de literatura Carolina Sales, o grande dilema daquela época estava na controvérsia gerada pelos movimentos artísticos revolucionários. “Todos queriam um mundo justo e com paz. Queriam o fim das guerras, das repressões, mas tentavam combater isso através de mais violência”.


Nesse aspecto, os Beatles foram os mais coerentes com suas contribuições para a paz política mundial, fato que gerou, inclusive, desconforto entre os rapazes de Liverpool e os Rolling Stones. Em maio de 1968, estudantes de Paris enfrentaram a polícia com paus e pedras, ao som do hino da esquerda jovem no mundo. Street Fighting Man, canção de Mick Jagger, dizia “everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy / Comes summer here and the time is right for fighting in the streets, boy”. (“Por toda parte ouço o som de pés marchando, atacando, cara / O verão chegou e a hora é de lutar nas ruas, cara”).

Enquanto isso, os Beatles preferiam entrar para a história com uma manifestação muito mais ideológica e menos prática. “Na época, um crítico inglês escreveu que os Stones estavam cheios de força e vitalidade, e que os Beatles decidiram ficar em seu hotel e fingir que dormiam”, relembra a professora Carolina.

A canção Revolution, de 1968, é uma resposta às críticas ao grupo. Em um determinado momento, John Lennon canta: “We all want to change the world / but when you talk about destruction, don’t you know that you can count me out”. (“Todos nós queremos mudar o mundo / mas quando você fala em destruição, pode saber que não vai contar comigo”).

Em outro trecho, John salienta que, naquele momento, o mais importante era os jovens se politizarem mais, antes de saírem feito loucos lutando pelas ruas. Para ele, a revolução deveria, antes de tudo, aguçar o senso crítico das pessoas, que precisavam aproveitar melhor seu tempo, abrindo sua mente. “Se você sai por aí carregando retratos de Presidente Mao / Não vai transar com ninguém / Você diz que a culpa é da Instituição / Ora, você sabe / O melhor, na verdade, é libertar sua cabeça”.


Em entrevista à Revista Rolling Stone, em 1970, John Lennon diz que os Stones acabaram os copiando, tempos mais tarde, adotando o mesmo discurso político em suas canções. “Eu me ressinto com a insinuação de que os Stones seriam mais revolucionários que os Beatles. Se os Stones foram, ou são, então os Beatles realmente foram. Os dois não estão no mesmo patamar, nem no sentido musical, nem em termos de poder. Nunca estiveram. Eu gostaria de listar o que a gente criava, e que os Stones faziam dois meses depois. Em todo disco e em tudo que a gente fez, o Mick faz exatamente igual”.

Certo ou errado, John Lennon foi um dos que mais contribuiu para a Revolução Cultural no fim dos anos 1960. Coincidência ou não, a frase usada pelo líder dos Beatles para descrever a dissolução da banda representou o fim dos movimentos políticos de esquerda no mundo inteiro, inclusive no Brasil: “O sonho acabou”.

E parece ter mesmo acabado. De lá para cá, os movimentos estudantis nunca tiveram mais a mesma força, salvo raras exceções. O sonho deu lugar ao comodismo. Para o historicista e escritor Roberto Muggiati, “as mensagens daquela década murcharam através dos confusos anos 70, dos conformistas 80 e dos enquadrados 90”. Tempo em que a revolução parecia estar ao alcance de todos, na virada da próxima esquina.


De rebeldes a pragmáticos


Às vésperas do 41º aniversário da revolta francesa de maio de 1968 - o levante estudantil e operário que chacoalhou todo o mundo – a aparente apatia que permeia o meio universitário de hoje acentua a diferença com o cenário anterior. Se em 68, o movimento estudantil tinha um caráter ofensivo, de ruptura com o status-quo, hoje as mobilizações – quando existem – têm um caráter muito mais defensivo.

De acordo com o professor universitário Thiérs Hoffman, os movimentos atuais são reflexos de ações isoladas, poucas vezes relacionadas com um bem comum ou pelo resgate da cidadania. “Hoje, vemos os movimentos estudantis serem impulsionados por motivos bem distintos dos ideais revolucionários que pregavam liberdade e novos valores sociais das décadas anteriores”, diz o professor da UNA.

Para Thiérs, o medo de uma nova ditadura militar criou, após a constituição de 1988, uma sociedade que estabelece muitos direitos e poucos deveres. Segundo o professor, essa situação levou a uma postura individualista e pragmática, que dificulta a mobilização coletiva. “Ser esperto e malandro, uma característica dita ‘jeitinho brasileiro’, cria o sentimento do querer levar vantagem sobre os outros, de aproveitar as situações e oportunidades”, afirma Thiérs. Além disso, a necessidade de se ingressar no mercado de trabalho proporcionou nova orientação aos jovens, dispersando as mobilizações. O movimento estudantil universitário hoje é, consequentemente, menos presente e organizado.

Para o sociólogo francês Edgar Morin, uma das maiores conquistas dos movimentos estudantis da década de 60 no mundo foi a afirmação da adolescência como uma entidade social autônoma. O intelectual acredita, no entanto, que a crise moral provocada pelas revoluções passadas é hoje muito mais grave, porque o mundo perdeu a crença em um futuro melhor. “Antes de mais nada, 1968 foi um ano de revolta estudantil e juvenil, numa onda que atingiu países de naturezas sociais e estruturas tão diferentes como Egito, EUA, Polônia, entre outros. O denominador comum é uma revolta contra a autoridade do Estado e da família. A figura do pai de família perdeu importância, dando início a uma era de maior liberdade na relação entre pais e filhos”, explica o sociólogo, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.

Depois disso, a poeira baixou e tudo pareceu voltar ao que era antes. Mesmo assim, para Edgar Morin as mudanças trazidas foram significativas. “Foi depois de 68 que os homossexuais e as minorias étnicas se afirmaram e que o novo feminismo se desenvolveu”, afirma. Ainda de acordo com o sociólogo, hoje em dia, no entanto, movimentos estudantis se generalizam rapidamente e prosseguem mesmo quando o governo satisfaz os seus pedidos. “É a alegria de estar juntos na rua, de desafiar os professores e a polícia. Até quando as reivindicações são ridículas, o fenômeno é importante, pois permite ao jovem tornar-se cidadão, escapando assim da crescente tendência ao apolitismo”, diz.

Para o professor Thiérs, no entanto, os movimentos estudantis deveriam ser um braço forte das mudanças sociais, pois estes representam a massa pensante e questionadora da sociedade. Sem um movimento estudantil ativo, a própria sorte da universidade fica exposta aos vícios do privatismo, do conservadorismo e do corporativismo. Entretanto, seja pela globalização ou pela “falta de perspectivas coletivas”, como explica Thiérs, o sentimento relacionado aos movimentos está banalizado. “Tal banalização gera uma sociedade apática e sujeita aos interesses da minoria detentora do poder”, adverte o professor.

Paz no esporte

Caroline Machado
Daniela Mineiro
Patrícia Almada

Harmonia entre os povos no esporte

A paz é um conceito que está em pauta nas equipes esportivas

O esporte tem o poder de unir as pessoas em uma só direção. É uma atividade que uns praticam por diversão e outros, por profissão. Oferece benefícios à saúde e contribui para promover a participação social e a competitividade. “Promove também alguns valores humanos e universais, tais como a disciplina, o senso de equipe e de coletividade, a solidariedade, compreensão e a tolerância, os quais, em conjunto, contribuem para a cooperação e o estabelecimento da paz”. ( ZORNITTA, Fernando, 2006).

Desde a antiguidade, o esporte vem sendo buscado como forma de proporcionar paz e harmonia entre os povos. Os gregos, por exemplo, viam nos jogos olímpicos, além da religiosidade, uma maneira de integrar as civilizações. Porém, o que se vê no esporte nos dias de hoje, principalmente no futebol, não é bem o clima de paz. Torcidas organizadas se enfrentam antes e depois dos jogos, atletas mostram indisciplina dentro de campo e até presidentes de clubes se alfinetam perante a mídia.

Casos de brigas entre as torcidas organizadas se tornaram comum no dias de hoje. No dia 15 de fevereiro de 2009, um torcedor atleticano foi morto com um tiro no pescoço, em um ponto de ônibus, antes do clássico entre Cruzeiro e Atlético. O pior é que o tiro partiu de um torcedor da Máfia Azul, maior rival da Galoucura. Em entrevista ao Jornal O Tempo, o promotor José Antônio Baeta afirmou que medidas estão sendo tomadas para tentar controlar a violência nos estádios. A primeira delas é a delimitação de espaços nas arquibancadas para cada uma das torcidas. “Só poderá entrar no setor e usar a camisa da organizada, aquele que estiver no cadastro da torcida”, afirma.

O cadastramento de torcedores é uma das medidas que o Ministério Público (MP) vai adotar para tentar trazer a paz para o esporte. Outra ação, que já foi colocada em vigor, é a proibição da venda de bebidas alcoólicas no estádio, que tem como objetivo coibir a violência entre os torcedores. Uma pesquisa realizada no Mineirão mostrou que, após a implantação da medida, houve redução de 70% nos índices de violência.

O torcedor atleticano Rodrigo Oliveira, de 27 anos, afirma que sempre vai ao campo, mas procura ficar longe de confusão. “Vou a quase todos os jogos e sempre presencio atos de violência”. Oliveira, que não é integrante da Galoucura, acredita que a violência nos estádios está excessiva. “As pessoas já vão mal intencionadas para o campo. O pior é que não temos segurança nem lá dentro, nem do lado de fora”.

Outro exemplo bem comum na atualidade é a indisciplina de jogadores. No clássico mineiro do dia 26 de abril, o atacante cruzeirense Kléber, ao comemorar o gol, provocou a torcida alvinegra imitando um galo, símbolo do rival. O Ministério Público está analisando a atitude do jogador, que pode ser punido. Além disso, torcedores atleticanos estão ameaçando o atacante e garantem que querem matá-lo. Na comunidade do Galo no Orkut - site de relacionamentos -, milhares de comentários de torcedores alvinegros estão sendo investigados pelo MP, que garantiu que a atitude é criminosa e os responsáveis podem ser punidos.

Infelizmente, o fanatismo pelo futebol é tão grande que acaba gerando violência. Em uma escolinha de futebol do bairro Sion, os alunos aprendem que o importante não é vencer, mas, sim, competir. “Sempre os motivamos a levantar a cabeça depois de uma derrota. Em jogos, não cobramos muito deles, pois sabemos que são crianças e que não estão preparados para isso”, afirma o professor Arthur de Melo. Além disso, a escolinha mostra, a todo o momento, que violência não leva a nada. “Eles já sabem que tudo se resolve na base da conversa”, completa o professor.

De acordo com o site Futebol Interior, o ex-coordenador executivo da comissão do projeto “Paz no Esporte”, Marco Aurélio Klein, tem como objetivo acabar ou, pelo menos, tentar diminuir o pesadelo da frequente onda de violência nos estádios nacionais. “Quero, com o projeto, mostrar que é possível ir ao estádio sem correr o risco de sair ferido ao término de uma partida”. Durante dois anos, Klein lutou com sucesso contra a situação e conseguiu a criação de uma delegacia que resolve os problemas na hora e dentro do próprio estádio. Além disso, conquistou o direito de fazer o cadastramento das torcidas organizadas e criar o cargo de gerente de segurança em clubes que devem contar com câmeras para monitorar o movimento dos torcedores dentro e fora dos estádios.

A luta pela paz é exemplo também em países como a Inglaterra. Depois de muitas tragédias marcantes no futebol, como a morte de 96 torcedores do Liverpool, no estádio Hillsborough, diversos clubes passaram a pensar em maneiras de pregarem a harmonia e a paz no esporte.

Não precisamos ir tão longe para encontrar exemplos de violência, mas, além disso, de luta pela paz. Os estádios mineiros passam a ser, a partir de uma nova lei aprovada este ano, palco de torcedores conscientes de que paz e justiça fazem parte do bom futebol.

Violência em estádios: como dar exemplos de paz

Getty Images/Agência
O estádio do Liverpool ficou lotado para a homenagem

O esporte luta, atualmente, pela tranquilidade, harmonia e ausência de perturbações. Percebe-se que atos de violência acontecem, principalmente, em um tipo de esporte que é a paixão de muitos: o futebol.

No fim dos anos 80, os clubes da Inglaterra estavam banidos das competições europeias pelo mau comportamento dos torcedores do Liverpool, também conhecidos como Reds. A punição se deu em 1985, contra o Juventus, pois 39 pessoas, a maioria do Juventus, morreram prensadas contra um muro após tumulto iniciado pelos fãs do Liverpool.

Passado-se os anos, em 15 de abril de 1989, a Inglaterra viveu a maior tragédia da história de seu futebol. Dois times, Liverpool e Nottingham Forest, disputavam a fase semifinal da Copa da Inglaterra no estádio Hillsborough. Este estádio era conhecido por receber grandes partidas não só pela capacidade, 50 mil, mas, sim, pela existência de alambrados que separavam os torcedores dos jogadores.

Um elevado número dos torcedores do Liverpool compareceu à partida. Só que esse número passou dos limites, pois à medida que o jogo ia acontecendo, o pessoal que estava ao redor do estádio entrou pelos portões. Cerca de cinco mil pessoas adentraram ao mesmo tempo. Conforme iam entrando, começaram a esmagar outros torcedores que estavam encostados no alambrado, até que ele ceder. A superlotação do estádio levou à morte 94 torcedores do Liverpool no mesmo dia. Outros 766 ficaram feridos e outros dois morreram no hospital. O último a falecer, Tony Bland, morreu quatro anos depois da tragédia por estar em coma.

Vinte anos após o acontecimento, os times Liverpool e Chelsa prestaram uma homenagem, fazendo um minuto de silêncio e lembrando as vítimas deste acidente. Alguns afirmam que nesta tragédia houve descaso da polícia, pois, sabendo o que estava acontecendo, não fizeram muita coisa para impedir. Pelo contrário, fizeram um cordão de isolamento em volta do alambrado.

De acordo com o site Butuca Ligada, “o que essa falta de atitude revela é a anestesia aplicada pela violência cada vez mais reinante no futebol, temperada pelo individualismo exacerbado dos nossos tempos. Morrer indo ao estádio quase não causa mais surpresa ou estupor. É uma consequência direta. Extrema, mas plausível”.

A banalização da violência pode ser vista em todos os lugares, até mesmo no Brasil. Vários acidentes aconteceram e ninguém os lembra para mostrar que a paz no esporte é fundamental e sadia. O Brasil não consegue mostrar respeito ao passado e às tragédias ocorridas em nosso país, justamente por essa banalização da violência. Temos três exemplos: em 1992, três torcedores do Flamengo morreram ao cair da arquibancada do Maracanã. Na final da Copa João Havelange, de 2000, o alambrado de São Januário não resistiu e caiu devido à superlotação do estádio. Cento e sessenta e oito pessoas se feriram. O maior episódio ocorrido no Brasil foi o de Fonte Nova, em 2007, com sete mortos.

Com tantos fatos, o Brasil não promove a paz e nem relembra o que as famílias destes torcedores passaram devido à falta de organização dos estádios e à multidão que vai aos jogos somente para arrumar confusão. Atos de violência que comovem e entristecem o nosso esporte.

Atualmente, os clubes ingleses, depois da tragédia do Liverpool, melhoram seus estádios. Tiraram alambrados e os torcedores que adquirem ingressos têm que assistir aos jogos sentados. Os fãs que demonstram nervosismo são expulsos na hora da partida. Além disso, os times ingleses pregam a paz e salientam a importância de haver torcidas amigas depois do acontecimento.

A paz no esporte, especialmente no futebol, deve ser tratada de forma particular, com incentivos para que as torcidas se unam pelo bem comum: apreciar uma boa partida. Os torcedores e fãs devem ser estimulados a terem a paz como uma ausência de violência e guerra em qualquer tipo de situação, sendo desejada e almejada para cada pessoa, a fim de ter em mente que o que importa não é ganhar e, sim, competir.

Paz nos estádios mineiros

Reprodução
Torcidas organizadas de Minas tentam levar paz para os estádios

Esta semana, foi publicado, nos sites da Galoucura e da Máfia Azul, um mesmo manifesto, intitulado “Paz e Justiça, a nossa onda é torcer sem violência!”. O texto tem como objetivo desmistificar algumas opiniões polêmicas sobre as torcidas organizadas e demonstrar aos leitores e aos seus clubes de coração que elas lutam e torcem por paz e justiça, dentro e fora dos estádios.

Entretanto, atleticanos e cruzeirenses declaram em seus sites que não são inocentes em achar que não existe, entre seus integrantes, uma minoria de pessoas que não entende a filosofia de torcer e amar o clube em que depositam suas emoções, frustrações e esperanças. Porém, consta no manifesto, que inocente é quem acha que há somente gente sem compromisso e inescrupulosa em torcida organizada.

De acordo com o responsável pelo site da Máfia Azul, que se intitula Frances CMA, a violência não leva a nada, “fomos os primeiros a publicar o manifesto que as outras torcidas adotaram. Quem continuar a provocar brigas e badernas estará sujeito a ser extinto pelo Ministério Público, com certeza”.

Segundo a torcedora atleticana e integrante da equipe de Muay Thai da Galoucura, Elissama de Amar, a torcida organizada do Galo já vem se preocupando em manter a paz nos estádios antes mesmo da existência desta lei. Existe, por exemplo, a campanha contra o vandalismo ao transporte coletivo, em que o Conselho Administrativo da Galoucura tem como objetivo conscientizar a todos os componentes da torcida organizada sobre o respeito que devem ter com os ônibus que fazem o trajeto para o Mineirão, sendo especiais ou não. “Hoje, vândalos depredam os ônibus, deixando trabalhadores, estudantes, familiares e até mesmo o próprio imbecil que quebrou o ônibus sem o transporte para o dia seguinte”, afirma Elissama.

Volta e meia o futebol brasileiro é tomado por uma onda de violência e, de tempos em tempos, quase que como um ciclo, discute-se a paz nos estádios de futebol. O presidente Lula assinou, no mês de março, no Palácio do Planalto, três medidas para aumentar a segurança nos estádios de futebol: um projeto de lei que criminaliza a violência de torcedores, um decreto que amplia as exigências técnicas para funcionamento dos estádios e um termo de cooperação técnica para monitorar o acesso de torcedores. As propostas fazem parte do plano de ações para a Copa do Mundo de 2014.

“Dada estas explicações, viemos a público dizer que sempre orientamos nossos integrantes a respeitar o próximo e, principalmente, o adversário. Temos como bandeira a paz e justiça para todos, independentemente das camisas que vestem”, trecho do manifesto “Paz e Justiça, a nossa onda é torcer sem violência!”.